MORRISSEY
COLISEU DE LISBOA
6 de Outubro de 2014
Está (ainda) bom e recomenda-se!
Do que se tem avaliado de Morrissey no Coliseu de Lisboa, as opiniões são muito divergentes, mas a verdade é que o ex-vocalista esteve igual a si próprio, com uma voz irrepreensível e uma banda que o acompanha com algum nervosismo à mistura nesta data, ou não fosse, Lisboa a primeira da tour de apresentação no novo álbum ‘World Peace is None of Your Bussiness’.
Pontualidade britânica, luzes apagadas e assiste-se a uma sessão de vídeos de alguns ídolos de Morrissey com New York Dolls, Penetration, etc à cabeça e no meio um trágico vídeo com toureiros vencidos pelos touros em plena arena com ‘The Bullfighter Dies’ de fundo a espicaçar um pouco mais o bem composto Coliseu de Lisboa.
Pano de palco içado, a banda aparece envergando t-shirts com dedicatória especial (leia-se “fuck”) à Harvest, ex-editora de Morrissey e a imagem de um homem de branco com toda a sua aura de ícone musical surge em palco para começar com um dos hinos de The Smiths de forma refinada e restaurada, ‘The Queen is Dead’. No alinhamento, Morrissey consegue o improvável para muitos que não acompanham tão seriamente a atual carreira ao vivo do mesmo e não se importa de insurgir com canções que certamente não seriam as primeiras escolhas de muitos dos fãs, mas também é isso que faz Morrissey ser a personagem que tanta gente admira, mesmo após o término de ‘The Smiths’, que é esse inexplicável saber poético de como Moz pensa e age.
Com maior incidência pelo mais recente álbum a solo e praticamente uma amostra de cada um dos anteriores com maior sucesso, Morrissey deu tudo o que tinha a dar em palco, e ainda ofereceu não um, mas sim quatro “because we must…” canções de The Smiths, sendo elas ‘The Queen is Dead’, ‘Hand In Glove’, a terapia de choque acompanhada de uma brutalidade de imagens com pintos, vacas, galinhas, perus e muitos outros animais a serem chacinados com intenção de alimentar a fome dos humanos de ‘Meat is Murder’ e o momento da noite de ‘Asleep’ que fez lacrimejar muita gente com a sua melancolia e saudosismo.
Constante peito feito tal galo de capoeira, dançando com o cabo do microfone, arrogante no bom sentido, introvertido e pouco de palavras para além de uns “gracias” e “obrigado” e um elogio à “bonita cidade de Lisboa” para apelar a que escrevam “shit, shit, shit” e “no, no, no” em toda e qualquer publicidade do McDonalds, Moz cumpriu e bem o seu papel (e aqui, 5 estrelas para o seu vozeirão)!
Se ficou um amargo na boca, ficou! Podia ter sido um concerto mais estimulante… mas mesmo assim não nos podemos queixar, já que o concerto aconteceu, ao contrário de último agendado em 2012 por terras lusas, ao mesmo tempo que nos abre apetite para uma próxima visita ao nosso país, que certamente se espera que aconteça.
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Texto: Jorge Mestre
Fotografia: Alexandre Antunes