20º SUPER BOCK SUPER ROCK
Dia 2 (18 de Julho de 2014)
For Pete Sake (PT)
Porque o que é nacional é bom, For Pete Sake no palco EDP foi uma boa aposta. A banda de seis membros liderada vocalmente pelos irmãos Pedro (Pete Sake) e Concha Sacchetti mostrou a sua originalidade sonora, que passa pelo indie folk, pop e rock, e energia, em especial da Concha, que não parou de dançar nem por um segundo. Com os temas mais conhecidos como House e Got Soul, e outros não tão conhecidos, fizeram o público participar e render-se. O EP de estreia Soothing Edge sairá em princípio em Janeiro de 2015, mas já o podem adquirir via iTunes.
Keep Razors Sharp (PT)
Já no palco Antena 3, fiquei fã de uma banda portuguesa que desconhecia, que reúne 4 artistas de 4 bandas diferentes conhecidas. Com Afonso Rodrigues (Sean Riley & The Slow Riders) e Rai (The Poppers) na voz e também guitarra, Braulio (Capitão Fantasma) no baixo e Carlos BB (Riding Pânico) na bateria, a “tenda” encheu para ouvir um punhado de músicas espetaculares na onda do rock psicadélico e shoegaze dos anos 60. Os vocalistas foram buscar inspiração numa viagem à Arrifana cheia de ondas e cerveja, revelaram ao Público, e resultou num trabalho que funcionou!
Joe Satriani
Hoje é o dia que mete o rock no Super Bock. Num pequeno palco, um grande senhor, que já não é nenhum novato, regressa a este festival (esteve no SBSR em 2007) com um instrumental como há poucos (heavy headbanging alert!). É uma honra poder vê-lo ao vivo. Nota-se que a audiência é mais velha, mas também há bastantes jovens que gostam mais especificamente deste estilo musical, e no meio de tantos riffs, o público rapidamente cresce. No meio de uma setlist imperdível de dez músicas, dedica uma a Johnny Winter, falecido a 16 de Julho. Tocar guitarra desta forma não é mesmo para meninos e falando através da guitarra, quem precisa de letra?
Cults
Mesmo num dia nublado, com menos festivaleiros a ir à praia, a estreia de Cults em Portugal deu-se no palco principal mas não entusiasmou o público. O cabeça de cartaz do dia não ajudou pois não podiam ser estilos mais diferentes. O indie pop e a voz doce da vocalista Madeline Follin é um som que realmente não é para todos e que não é muito conhecido pelos portugueses. Teria sido mais sensato se a banda tivesse tocado no palco EDP e Joe Satriani tivesse tocado no palco principal. Foram apresentadas músicas dos dois álbuns lançados. Onde se viu alguma reação foi em Go Outside, o single mais conhecido da banda, e alguma nas mais recentes High Road e I Can Hardly Make You Mine, dedicada a Sleigh Bells, que atuaram no palco EDP mais tarde. Mesmo sem o público ter dado muito, Madeline no final grita estridentemente um thank you! que foi talvez o momento com mais vida de todo o concerto. E ainda teve tempo para roubar discretamente uma baqueta e atirar para o público.
Pulled Apart By Horses
Entre moches e crowd surfing pelo público, chegou a chuva ao festival (Glastonmeco). Pouca sorte para a banda, que em 2008 já tinham apanhado chuva em Portugal e foram eletrocutados. Fuck the rain, gritam Tom Hudson e James Brown e grita o público, e ainda we will get electrocuted for you guys! Dito isto, o concerto não parou, e a chuva só parou quando o espetáculo terminou. Mas digo-vos, podia não ter chovido, mas não era a mesma coisa. Pudemos ouvir músicas de 2010 e 2012, mas também novos sons do álbum Blood a sair em Setembro. O problema foi depois para as atuações seguintes no palco EDP...
Woodkid
Voltando ao palco principal, é a vez de Woodkid (Pinóquio?), ou será melhor dizer Woodking e a sua banda (quase filarmónica but cool), que regressam a Portugal após uma atuação que ficou para a história no Vodafone Mexefest, em Novembro. Com expetativas elevadas, não queríamos ficar desapontados. E não fomos! O vocalista Yoann Lemoine, pode ter aspeto de rapper, mas é na realidade um artista com muito soul, emoção, paixão, para além de muita criatividade (o som da banda é uma junção do clássico ao alternativo). Unindo a sua voz harmoniosa touched by the angels com todo o conjunto de instrumentos em palco como se de uma orquestra se tratasse, entrámos num filme e fizemos parte da sua banda sonora, e podemos afirmar que cada música nos chegou como se fosse um hino. Das catorze que completam o único álbum The Golden Age de 2013, pudemos ouvir dez (sem falhar The Golden Age, I Love You, Iron e terminando com Run Boy Run), o que é um número bastante bom. E foi um dos melhores concertos de todo o festival. No final do concerto oiço uma voz que diz estou fã.
Cat Power
Viu o seu concerto adiado uma hora para limpeza e cobertura do palco EDP e ainda encurtado pois a chuva podia voltar a qualquer hora e todos os artistas que faltavam atuar tinham o mesmo direito em atuar, revela Cat. Sem perder tempo, e vestida com uma camisa de flanela lembrando-nos os anos 90, deu tudo de si, com uma voz underground como não há outra igual e muita maturidade e segurança nas seis músicas interpretadas. Não faltaram Cherokee e Manhattan do álbum mais recente, e ainda uma cover de Silver Stallion (The Highwaymen). Prometeu aos seus fãs que iria voltar, atirando-lhes tudo o que era possível do palco.
Eddie Vedder
Não seria um concerto de Eddie Vedder sem este a dizer um boa noite... saúde! ao mesmo tempo que bebe duma garrafa de vinho, e a ler uma folha de papel com um texto em português. Diz o artista que ainda só tinha tocado para um público tão grande uma outra vez, e foi em Portugal, há 2 anos, no festival Sudoeste - so I know I can trust you guys. Partilha ainda com os presentes que a t-shirt que tem vestida, tem-na usada nos seus últimos concertos, pois era a camisola que usava quando se despediu do seu tio que tudo lhe ensinou, Uncle John. O concerto foi adiado uma hora, para grande frustração dos fãs. Mas a meio da setlist de vinte e nove músicas, tanto dos dois álbuns a solo, como dos álbuns de Pearl Jam e ainda várias covers (de nomes como Hunters & Collectors, Pink Floyd, Neil Young, The Beatles, Wayne Cochran, etc.) percebeu-se o porquê. Cat Power, grande amiga de Eddie, tinha que dar o seu concerto primeiro, para depois poder ser chamada ao palco para cantar a versão presente em Ukelele Songs de Tonight You Belong To Me (Irving Kaufman). Mas as surpresas não terminaram por aí... Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) participou na cover de Masters of War (Bob Dylan), acompanhando a voz de Vedder com a sua guitarra elétrica, sendo o primeiro português a colaborar com o músico. Houve dois encores, sendo que o primeiro terminou com Cat Power, agora com toda a banda, a ajudar Eddie Vedder na música Hard Sun (Indio). Ainda houve tempo para introduzir a música Portugal, para grande alegria dos presentes. Mas o maior momento do concerto, e de todo o festival, foi quando o artista falou abertamente sobre o facto de ser anti-guerra (mas que isso não significava que era pro-paz), introduzindo a sua cover única da música mais poderosa do mundo para ele, Imagine (John Lennon), acompanhado por todo o público que levava folhas com mensagens a dizer PEACE, LOVE, NO WAR, etc. O concerto de 2h20 foi o maior de todo o festival, com Eddie Vedder a dizer someone told me I can play ‘till whenever I want... e assim o fez, dando o melhor concerto de todo o 20º SBSR. E nós agradecemos ainda com um I’m still alive.
Sleigh Bells
A banda esperou seis horas para atuar, repito, SEIS HORAS. E com um voo para apanhar em poucas horas, tiveram também que encurtar a setlist de dezasseis músicas para seis músicas, das quais as grandes Comeback Kid, Bitter Rivals, Infinity Guitars e A/B Machines (com direito a crowd surfing por parte de Alexis Krauss) e ainda uma sétima, Rill Rill, amavelmente cantada acapella pela vocalista enquanto os seus companheiros arrumavam o palco. Alexis ainda distribui amor pelo público, cumprimentando todos e tirando fotos. Tal como Cat Power, prometeram voltar.
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Texto: Irina Silva
Fotografia: Rúben Viegas